Arma que matou soldado da PM não dispararia sozinha, conclui perícia
Metralhadora estava em más condições, mas só gatilho acionado dispararia
O laudo realizado pela Perícia Oficial na metralhadora de onde
saíram os projéteis que mataram a soldado Izabelle Pereira revela que a
arma não poderia ter disparado sozinha. O resultado foi apresentado em
entrevista coletiva, nesta quinta-feira (9), na sede da Secretaria de
Defesa Social, em Maceió. Após a realização de testes, os especialistas
chegaram à conclusão de que a arma estava em más condições, mas não a
ponto de disparar sozinha. A movimentação do carro, que seguia em alta
velocidade para uma ocorrência, também não poderia ter provocado os
disparos.
As informações sobre o resultado das análises foram repassadas pelo
perito Ricardo Leopoldo. Segundo ele, a arma apresentava péssimas
condições, com ferrugem e sujeira, situação que normalmente é ocasionada
por falta de manutenção. Apesar disso, pelos testes realizados, a arma
não poderia ter disparado sozinha, somente se o gatilho tivesse sido
acionado.
“A arma não estava com defeito. Ela estava com falta de manutenção, mas
não poderia ter disparado sozinha. Houve um acionamento de gatilho, mas
não podemos afirmar que foi feito por alguém. Pode ter sido por um
objeto ou pelo cano de outra arma”, explicou o perito.
Familiares da soldada Izabelle Pereira acompanharam a coletiva realizada
na sede da secretaria, nesta manhã. O pai da vítima, Cláudio Silva dos
Santos, quis saber porque somente 15 projéteis foram periciados, já que
30 disparos foram feitos. Desses, 13 atingiram Izabelle e dois não foram
encontrados.
O perito explicou que eles poderiam ter ficado presos na roupa de outro
dos oficiais ou caído para fora do carro. Ele acrescentou que só recebeu
os projéteis encontrados dentro da viatura - os que estavam na vítima
não foram analisados. Mesmo assim, foram contabilizados 28 deles, além
de outros três de pistola .40. Sem analisar os projéteis que estavam no
corpo de Izabelle, a perícia não tem como saber se todos os tiros que a
mataram partiram apenas de uma arma.
O
pai da soldada questionou isso, já que o comandante disse, em
depoimento, ter disparado apenas dois tiros de pistola para fora do
carro. "Se ele disparou dois, como foram encontrados três projéteis
dentro da viatura?", perguntou ele, que também afirmou que os outros
policiais que estavam na viatura no momento do incidente estão omitindo
informações.
"Tenho certeza que os colegas de farda estão omitindo o que aconteceu. A
perícia já disse que a arma não dispara sozinha, então precisou da ação
de um humano para que isso acontecesse. Não quero culpados. Quero saber
o que aconteceu dentro da viatura naquela noite. Algo fez aquela arma
disparar", afirmou.
TESTES
Na submetralhadora, foram realizados os testes de tração do gatilho,
vibração e queda livre, que não apresentaram alteração nos resultados.
No de eficiência, foi identificado um problema e houve um incidente de
tiro devido a um desgaste em uma das peças - quando a arma dispara após
acionada e volta a disparar novamente mesmo com o gatilho voltando à
posição normal. O outro armamento do tipo foi desmontado e não
apresentou qualquer problema.
Numa das verificações no modo rajada limitada, a arma não apresentou
qualquer problema. Já em outra, aconteceram disparos além do limite.
"Ela não fez essa rajada nos dois primeiros dias. No terceiro, simulei
uma situação com uma mola suja e ela deu uma rajada. Foram 30 cartuchos e
30 disparos. Mas isso não pode ser considerado um defeito de fabricação
da Taurus e também não foi isso que ocasionou o ocorrido", disse
Leopoldo.
Ele destacou que fez mais de 500 testes na submetralhadora ao longo de
20 dias. O de queda livre, por exemplo, foi realizado de 250 a 300
vezes, com a arma sendo jogada, municiada e carregada, de diversas
alturas em cima de uma manta de borracha. A coronha chegou a sofrer
danos devido à intensidade.
Apesar de não poder afirmar se houve ação humana, Ricardo Leopoldo disse
que um tiro involuntário não pode ser descartado. Aí o caso seria de
crime culposo, quando acontece por negligência, imprudência ou
imperícia, e não doloso, quando a intenção ou se assume o risco de
cometê-lo.
O perito responsável pelo caso descartou ainda que movimentos bruscos da
viatura possam ter causado os disparos. “Chegamos à conclusão de que a
arma foi acionada, mas não podemos dizer como isso aconteceu, exceto de
que não foi pelo movimento. Vai caber ao delegado descobrir o que
aconteceu", expôs.
Foram encaminhados à Perícia Oficial duas submetralhadoras, quatro
pistolas .40, 30 cartuchos, 31 estojos de .40 e outros dois de revólver
calibre 38 - esses não envolvidos na ocorrência e provenientes de outra
ação realizada no automóvel -, além dos 15 projéteis que estavam dentro
da viatura e do colete de Izabelle Pereira.