Entidades questionam eficácia de insulina distribuída pelo SUS e cobram mudança
As crianças, no entanto, têm dificuldade de identificar os sintomas de
hipoglicemia, enquanto os hormônios dos adolescentes fazem com que tudo
fique irregular.
E a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM), Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), Associação
Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) e Federação Nacional do
Diabetes (FENAD) lutam, juntas, por meio também de um abaixo-assinado ao
Ministério da Saúde (link aqui), para que uma insulina que previne
esses problemas seja disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Não é uma luta nossa, é uma luta para os pacientes”, explica Karla
Melo, coordenadora do Departamento de Saúde Pública da Sociedade
Brasileira de Diabetes.
Para entender melhor, o diabético precisa usar dois tipos de insulina
diariamente. A basal, de ação lenta, e outra de ação rápida, que deve
ser usada quando a pessoa vai se alimentar. É essa de ação rápida que as
sociedades pleiteiam.
A razão? Os carboidratos ingeridos por meio da comida se transformam em
açúcar dentro de uma ou duas horas, período em que caem no sangue e o
“adoçam”. Mas o sangue não pode ficar “doce” e, como os diabéticos não
têm um pâncreas que fabrica o hormônio que tira esse açúcar do sangue, é
necessário que uma insulina externa faça essa ação.
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A questão é que essa insulina que será aplicada precisa ser ágil, fazer
seu trabalho e se retirar rapidamente, passando a bola para a insulina
basal, que é constante. Mas não é bem isso que a insulina regular (que
usa-se para tirar o açúcar do sangue depois das refeições), distribuída
pelo SUS, faz.
Karla explica que a insulina hoje disponível para a saúde pública tem
seu pico de ação e dura cerca de seis a oito horas no organismo. A que
eles buscam implementar dura no máximo três ou quatro horas. E essa
duração menor é ótima, é assim que tem de ser, já que essa insulina deve
agir exclusivamente para anular os carboidratos ingeridos nas
refeições.
“Se uma pessoa janta às 20h, a insulina de ação rápida deve ter seu
pico de ação imediatamente e depois deixar que a insulina basal faça o
seu trabalho. Se a de ação rápida continuar agindo muito tempo, vai dar
hipoglicemia”, explica a médica. Além disso, a insulina disponível hoje
no SUS demora para começar a agir, o que obriga o paciente a aplicá-la
45 minutos antes da refeição.
Ter de planejar exatamente o que se vai comer com 45 minutos de
antecedência não é tão fácil. É preciso calcular quantas colheres de
arroz, feijão, macarrão, ou outros alimentos e aplicar a quantidade de
insulina capaz de anular tudo o que será ingerido 45 minutos antes de
comer. Mas e se algo der errado e o apetite fugir? E se na hora do
almoço a vontade de comer mais for irresistível? E se a criança de três
anos se recusou a comer a quantidade que a mãe havia planejado para ela?
O remédio vai demorar cerca de 45 minutos para começar a agir e, nesse
meio tempo, a glicemia estará altíssima, causando os picos de
hiperglicemia.
E é a partir desse descontrole que acontecem as complicações causadas
pelo diabetes, a longo prazo. Muito açúcar no sangue leva a problemas
nos rins, na visão, no sistema vascular, além de outros.
Já a insulina análoga de ação realmente rápida pleiteada pelas
sociedades ligadas ao diabetes começa agir rapidamente, e deve ser
aplicada já à mesa, pouco antes de começar a refeição. Ou, no caso dos
bebês e crianças, assim que terminar de comer, pois assim sabe-se
exatamente a quantidade de remédio será necessária.
Segundo os cálculos de gastos das sociedades envolvidas na petição, o
governo gastaria R$ 136 milhões no quinto ano da incorporação das novas
insulinas. Como haveria uma evolução no número de beneficiários
atingidos pelo programa, a tendência é que nos primeiros anos gaste-se
menos, chegando, no quinto ano, ao valor máximo de R$ 136 milhões. “Não
estamos pedindo insulina basal análoga agora, que se gastaria mais.
Estamos pedindo a de ação rápida”, explica ela.
O Ministério da Saúde afirma, em nota, que em 2014 gastou R$ 263,3
milhões com todos os medicamentos para tratamento do diabetes
distribuídos gratuitamente.
Há três tipos de insulina que eles sugerem que o governo escolha alguma
delas e implante: aspart, glulisina, lispro. Todas elas agem da mesma
forma. "Colocamos em ordem alfabética porque não temos preferência
específica entre elas", diz Karla.
Os resultados dos exames de hemoglobina glicada, explica a
endocrinologista, considerado o mais importante teste para demonstrar a
média da glicemia ao longo de três meses, pode ter interferido nos
resultados sobre o controle glicêmico. Naturalmente, se há picos de
hiperglicemia e hipoglicemia, a média será normal. Só que, nesses picos
de hiperglicemia, os rins, olhos e outros membros são lesados. Nos picos
de hipoglicemia, o cérebro não recebe seu alimento – o açúcar – e a
pessoa perde os sentidos e pode entrar em coma.
Denise Ludovico, endocrinologista da Associação de Diabetes Juvenil
(ADJ) explica que o impacto na economia também deve ser pensado a longo
prazo. “Diminui-se o gasto com internação e tratamento de pacientes por
causa das complicações, que pode ser desde retinopatia diabética até
amputação de pés e membros”, defende. “Gasta-se agora para evitar gastar
depois”. A qualidade de vida entra em cena.
É importante ressaltar, no entanto, que a insulina disponível hoje no
SUS salva vidas. Embora haja melhores, muitas vidas dependem dela. Karla
questiona que, se já existem outros tipos mais eficazes no mercado –
que fornece qualidade de vida aos pacientes – e se o valor cabe no
orçamento do governo, não há razão para continuar fornecendo a antiga.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que as insulinas regular e NPH
têm qualidade, segurança e eficácia comprovada, "não havendo nenhum
estudo que aponte que as insulinas análogas são melhores ou superiores
as já ofertadas, que melhorem a sobrevida dos pacientes ou reduzam
complicações. Além disso, por ser um produto mais recente, encontra-se
sob vigilância de pós-comercialização, não tendo segurança de longo
prazo comprovada".
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), junto com a Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM), Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), Associação
Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) e Federação Nacional do
Diabetes (FENAD) discordam.
Em nota no abaixo-assinado, as sociedades e associações se colocam à
disposição para auxiliar na análise dos efeitos da incorporação da nova
insulina "sobre a saúde e qualidade de vida das pessoas com diabetes,
seus aspectos farmacoeconômicos e no desenvolvimento de estratégias para
melhorar a saúde de pessoas com diabetes em nosso país".
Fonte:Primeira Edição
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