sábado, 15 de novembro de 2014

Triste estatística...Lamentável para o nosso Estado de Alagoas...Mais de 400.000 alagoanos passam fome e vivem na miséria...

Mais de 400 mil alagoanos passam fome e vivem na miséria Dados do Ipea mostram queda brusca da extrema pobreza no Estado, mas denunciam realidade cruel de milhares de pessoas


Na última década, Alagoas registrou uma queda brusca do número de pessoas que vivem em situação de miséria, reduzindo esse quantitativo, entre 2003 e 2013, de 1.135.933 milhão para 407.394, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). Apesar dessa boa notícia, a linha descendente de pobreza no estado voltou a subir no ano passado, quando feita uma comparação com 2012, indo na contramão da região Nordeste, que foi a única do país a não registrar esse tipo de aumento. Com 12,34% da população vivendo em situação de extrema pobreza, Alagoas amarga a segunda colocação no ranking dos que têm o maior número de miseráveis, ficando atrás apenas do Maranhão, onde esse percentual é de 17,29%.

São considerados extremamente pobres aqueles que não têm acesso, sequer, aos alimentos que garantam o mínimo de calorias necessário para suprir adequadamente uma pessoa. São famílias que passam fome e enfrentam dificuldades diárias para sobreviver. Com uma renda de R$ 200 para passar o mês e sustentar os três filhos, a marisqueira Lucélia Alves da Silva, de 37 anos, enquadra-se nesse perfil. Moradora da Comunidade Mundaú, ela estava há 24 horas sem se alimentar no momento em que falava com a Gazetaweb .

Para amenizar a dor da fome, Lucélia se rendeu ao vício do álcool e agora não passa um dia sem ingerir aguardente. “Eu só me alimento de vez em quando, quando distribuem sopão aqui na lagoa ou quando alguém me dá o que comer. Enquanto isso, tomo cachaça”, conta a alagoana, que ganhou um copo com comida de um amigo minutos depois de iniciar a conversa com a reportagem.

O desempregado Edson José da Silva, de 43 anos, é outro que integra as estatísticas da extrema pobreza no Estado. Sem renda fixa, sem alimentos na dispensa de casa e sem expectativa de conseguir ter alguma refeição ao longo dia, ele também bebia e tentava esquecer os problemas por meio do álcool. “Não tem nada na minha casa. Não tem sururu na lagoa e eu não consigo emprego. O que me resta é beber”, afirmou.

No município de Senador Rui Palmeira, no Sertão do Estado, a agricultora Isaene Neves da Silva, de 38 anos, sustenta a família de cinco pessoas com a renda do Bolsa Família e do pouco que consegue tirar do trabalho na roça, uma média mensal de R$ 500. Sem estudo e nem oportunidades, ela diz que não é raro faltar comida em casa e que, quando tem, é somente o suficiente para não passar fome.

“Se não fosse o dinheiro do Bolsa Família, ia ser muito pior, porque o que tiramos da roça é cerca de R$ 150. A vida aqui é difícil, mas eu não tenho o que fazer. Sou analfabeta e só sei trabalhar na roça”, falou.

DOMICÍLIOS

Segundo dados do Ipea, divulgados neste mês de novembro, Alagoas tinha, em 2013, um total de 109.561 domicílios extremamente pobres. Em 2012, esse quantitativo era de 89.195, o menor registrado na última década. Em 2003, eram 220.577 domicílios nessa situação. De acordo com o economista Cícero Péricles, o crescimento da miséria, no ano passado, tem relação direta com a falta de recursos destinados a programas que possam garantir a ascensão continuada das pessoas.

“O modelo de inclusão social via transferência de renda, benefícios previdenciários e outras políticas públicas é positivo, mas tem um limite que é próprio desse tipo de intervenção, que retira a família e o cidadão da miséria, da extrema pobreza, mas não garante a continuidade dessa melhoria, ficando sempre na fronteira entre sua situação atual e o que foi recentemente. Assim, um ex-miserável que não consegue ascender um pouco mais, pode, a qualquer momento, voltar para a antiga situação. Nos últimos anos, o baixo crescimento da economia nacional e a inflação também ajudam a explicar essa parada na queda do número de miseráveis no país e em Alagoas. Para que as políticas públicas sejam mais eficientes, se faz necessário que programas de desenvolvimento baseados na criação de riqueza, na geração de emprego e renda na produção real sejam implantados”, afirmou o especialista.


As políticas públicas implementadas pelo governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), são voltadas para garantir às pessoas alimentos equilibrados nutricionalmente para que, bem alimentadas, elas possam trabalhar e gerar renda, melhorando as condições de vida. Um dos projetos implementados com esse objetivo é o Restaurante Popular do Benedito Bentes, que oferece mil refeições diárias ao valor de R$ 2. Há também o projeto de Cestas Nutricionais, que beneficia gestantes alagoanas, e o que distribui, diariamente, 4 mil litros de sopa nas comunidades carentes da capital.

“Pode parecer assistencialistas, mas nosso trabalho é voltado para a segurança alimentar. Damos o suporte para que as pessoas possam dar continuidade, de forma autônoma, às suas vidas”, ressalta a diretora de Promoção e Vigilância em Segurança Alimentar e Nutricional da Seades, Ana Paula Santos.

NORDESTE

Mais da metade dos que vivem em situação de miséria no país está concentrada no Nordeste. Um percentual de 56%, equivalente a 10,5% da população da região. Em 2003, eram 15,5 milhões de pessoas nessa situação, enquanto no ano passado, esse quantitativo foi de 5,8 milhões – uma redução de quase 1/3 em uma década. Apesar dos avanços, a média de miseráveis do Nordeste ainda é mais que o dobro da nacional, de 5,2%. A boa notícia que os dados do Ipea trouxeram é que a região foi a única do país a registrar redução da extrema pobreza em 2013. Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte tiveram aumento desse número.

Segundo o Cícero Péricles, a diminuição no Nordeste se deu por uma combinação de vários fatores. Um deles é o número de previdenciários, que doboru na última década, passando de 4,4 milhões em 2003 para 8,8 milhões em 2013. O Bolsa Família - que beneficia 6,5 milhões de famílias, que recebem R$ 1,1 bilhão mensais - e a geração de novos postos de trabalho também foram importantes nesse período.

Hoje, a Previdência Social paga o equivalente a R$ 6,6 bilhões por mês aos seus beneficiários nordestinos. O Bolsa Família teve participação importante, mas é de menor impacto que a previdência social. Simultaneamente, houve um aumento no número de trabalhadores com carteira assinada, que passou de 5 para 9 milhões de assalariados com contrato formal de trabalho. Como o Nordeste possui 19,2 milhões de famílias, a cobertura dessa rede pública (previdência e bolsa família) mais a renda dos nove milhões trabalhadores formais atingem praticamente todas as famílias da região. Essa combinação de atuação das políticas públicas mais a geração de empregos é a razão central da queda nos índices de miséria”, explica.



POBREZA

Os dados do Ipea também tratam do número pessoas em situação de pobreza, que se afastam da situação de miséria por terem uma renda mensal de R$ 70 per capita. Cerca de 1/3 da população do Estado se enquadravam nesse perfil em 2013, um total de 1.109.016 pessoas, distribuídas em 264.543 domicílios. O número é altíssimo, mas representa quase a metade do registrado em 2003, que foi de 2.027.650 alagoanos. Também é menor que o de 2012, de 1.120.044.

A integrante da Cooperativa dos Catadores de Lixo da Vila Emater (Coopvila), Damiana Maria da Silva, de 44 anos, sabe bem o que é viver com poucos recursos e garantir alimento diário para toda a família. Com uma média mensal de R$ 550, provenientes do trabalho e do Bolsa Família, ela sustenta dez filhos. “Tem que sobreviver né? Tem que comer pouco, porque se comer demais não dá para sobreviver. Tem que comer no limite”, afirma.

Ela diz que já enfrentou a falta de comida em casa, mas que nos últimos meses isso não tem acontecido. “Agora parou mais, mas de vez em quando faltava comida sim. Quando isso acontecia eu ia catar na rua. Catava reciclagem na rua, trazia e vendia para dar comida a eles [aos filhos]”, fala.

Antônia Paulo dos Santos, de 53 anos, também enfrenta uma situação difícil. Com uma média mensal de R$ 350, ela precisa sustentar a casa e os quatro filhos. A feira, que representa um gasto de R$ 180, não dá para chegar ao fim do mês e ela precisa recorrer ao “fiado” para conseguir alimentar a família.

“É o jeito viver com esse dinheiro. Já chegou a faltar comida em casa, mas fazer o que? Eu me aperreio, chamo o homem da feira, faço um contrato e eu pago em duas, três parcelas”, afirma Antônia, que é integrante da Coopvila e trabalha de domingo a domingo.

Apesar de todas as dificuldades, a esperança ainda existe. Maria Célia Silva dos Santos, de 31 anos, é a prova disso e sonha em ver os quatro filhos chegarem à universidade. Com uma renda mensal de cerca de R$ 500, ela alimenta sonhos e educa as crianças para eles se realizem. “Estou me esforçando o máximo para isso. O que eu ganho não dá para comer bem, mas meus filhos sabem que eu faço o que posso e que precisamos sobreviver com o que temos. Já falei pra eles que eu fico velhinha trabalhando, mas vou ver todos eles na universidade”, disse Maria, que, como tantas outras, esperam dias melhores. 
 
Fonte:Gazetaweb

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